O IML fecha suas portas
Cravado, no centro velho curitibano, sem o merecido cuidado, o Instituto Médico Legal do Paraná, que já foi motivo de orgulho dos paranaenses, como a melhor instituição de ensino e prática de Medicina Legal da América do Sul, não resistiu ao descaso do Poder Público e sucumbiu.
Por ordem da direção estão suspensas as aulas práticas e teóricas nas dependências do IML. Tal resolução diz-se embasar na precariedade do anfiteatro...na circulação de alunos em áreas proibidas...reclamações dos periciados, etc.
Ora, qual advogado, qual médico graduado nesta capital, não freqüentou às hoje tão precárias instalações do Instituto Médico Legal do Paraná.
E destes, qual não saiu de lá esquecido da lousa lascada, dos móveis deteriorados, do piso mal conservado, das cadeiras desgastadas e instrumentais corroídos pelo uso e ferrugem e sim, impressionado com a visão do corpo inerte, da história ouvida da “Clínica” , das lições do professor.
O que parecia tão distante, enquanto no livro, estava ali ao alcance da mão.
Se passaste por aqueles corredores, relembre, se não, saiba.
As aulas ministradas no Instituto jamais são esquecidas. Lá, a Medicina Legal se mostra, na sua essência, inteira, ao jovem graduando da arte médica ou jurídica.
Ao ver o corpo putrefeito, ocupado pela mais democrática flora necrófila, aceitamos o ciclo da vida, nossa finitude e insignificância. Crescemos e amadurecemos no relato das vítimas e dos agressores.
E é diante desta realidade, do mais cruel dos mundos que, para alguns, um livro de indagações se abre e o sentido investigativo é aguçado e escolhemos então, ser legistas, criminalistas, patologistas forenses, pesquisadores, estudiosos , professores...
Na verdade, por vergonha, puro constrangimento, o IML Curitiba fecha suas portas aos estudantes.
Não há outro local que se possa aprender Medicina Legal senão no IML, portanto o sentimento é de perda.
Perdem os alunos essa oportunidade única de aprendizado acadêmico e pessoal; perde a comunidade acadêmica, os professores; perdem a direção da Instituição, a Secretaria de Segurança Pública e o Governo do Estado, que inertes, maculam suas gestões ao permitir que tal situação aconteça.
Perdemos todos.
Temos que, ao invés de esconder nossas mazelas, de comodamente afastar os estudantes com suas nem sempre convenientes perguntas; atraí-los, conquistá-los, fazer com que vivenciem a dura realidade do IML e engajem-se como cidadãos na cobrança por melhorias que urgem por serem feitas.
E assim, talvez os tornemos testemunhas de um novo tempo.
Um tempo ideal, de transparência, responsabilidade e grandeza, um tempo onde as iniciativas de crescimento acadêmico, social e moral sejam incentivadas e garantidas e não tenha seu prosseguimento interrompido por caprichos ou retaliações.
Nós médicos legistas, servidores da casa, tivemos a senha de acesso ao programa que compila os dados de violência em Curitiba, bloqueada.
Não obstante, que tal programa foi idealizado por um médico legista junto a Celepar e vinha tão somente como mais uma ferramenta para o combate à violência crescente, que assola nossa cidade e como produção científica da Instituição.
Mais uma vez perdemos todos.
A Associação dos Médicos Legistas do Paraná, que zela pela Medicina Legal, na sua prática, promoção e ensino; vê nestas resoluções e deliberações grandes equívocos.
Diretoria da AMLPR
Curitiba, fevereiro de 2012.
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A precariedade das instalações do IML Curitiba, é motivo alegado pelos responsáveis, para proibir os futuros médicos, estudantes do quarto e quinto ano de Medicina de frequentarem a instituição. Hoje, 14 de março de 2012, os alunos da Faculdade Evangélica quiseram conferir pessoalmente este impedimento e prometeram resgatar a qualquer custo, essa prerrogativa ímpar de aprendizado.
A AMLPR, desde o conhecimento desta resolução posicionou-se contrária à mesma. Na oportunidade, ponderou e alertou (editorial/ arquivo) do prejuizo que traria ao nome e tradição da nossa Instituição e principalmente ao aprendizado dos futuros médicos e por conseguinte da sociedade.
Porém, ainda acreditamos que o bom senso há de prevalecer e a revogação deste impedimento,demonstração inequívoca da falta de aconselhamento técnico, diálogo e inassertividade, esteja próximo. A AMLPR preza pelo bem do nosso IML e sempre se posicionará contrária a tudo que sabidamente possa desviá-lo de sua tradicional grandeza, outrossim, estará sempre a disposição da Direção para colaborar em qualquer assunto técnico e ético que envolva nosso Instituto.